Metafísica (da criação)

Absolutamente nada o não-ser
Nenhuma pressa, sombra, forma ou icto.
Sendo a causa primeira da existência
No início da existenciação do mundo

A substância divina fez-se essência
Transcendência, imanência e onipresença.
Distribuindo o ser às coisas TODAS
De modo pleno, NADA fora d’ELE

Vivendo nele, sendo e se movendo
A terra, o céu, o mar e os outros seres
Naquele que é o icio, o fim e o meio.

De personalizada ação direta
Forma individual, irredutível
Antes mesmo do corpo ganhar nome

Que cuspido e escarrado virou homem!!!

Metafísica (da criatura)

Ah! Indivel eu, com que me assento
Vivendo em corpo, espaço e tempo findos
Porquanto a vida vai se diluindo
Jazem meu coração, meu pensamento.

Trago em meu peito imensas catedrais
Noites de tempestades, velas, mares
Pó de estrelas, sertão, luares, bailes
Perfurações por armas e outros ais.

Uma aventura a prazo sendo escrita
No compartilhamento de mil vidas
Meu sangue luso, meus avós, meus pais.

Oh! senhor dom Annio que me habita
Em mimpode haver as mais perdidas
MEMÓRIAS, vivas, idas e legadas.

Por que existe a meria em vez de’o nada?

Estrambote acróstico

A falta aguda de’ar no peito asmático
Nenhum descanso dado a dona Emília
Tampouco ao seu João, irmãos e tias
Odete, Arlete, Hilda, Jo, João.
Não pode haver no mundo amor maior.
Inda tenho este abrigo, inda me resta
O nome português do avô materno

Como’um fio’em que’es minha’alma presa.
Roubei-vos o sossego (é bem verdade!)
Inda trago no peito iníqua culpa
Sou o que sou, porque somos todos nós.
Tão perto, não importa o quão distante
Isto faz da minh’alma puro canto
Não cede, não repousa e nem conforta

O pranto, a queixa, o medo a solidão (e a morte!).

Eclipse lunar

Mais uma noite, depois do dia
Noite que chega’ em minha vigília
Dissolve a noite todas as crenças
Com seus misrios e reticências

Concreto e frio, lunar eclipse
Apocalipse, caos no equilíbrio
Ave’ agoureira, como um cometa
Cheia de trevas, fim e princípio

A noite negra’, anoiteceu tudo
Por uns instantes, véu, voz, veludo
A noite noite, querida imiga

Canção de cura, pra lua’ escura
Pois só existe, na lira augusta
Meu canto triste de comunhão

Escuridão, minha velha amiga!!!

Canção do amor maior (para quem quiser cantar)

Me a mão
E vem cantar comigo
Essa canção
É para quem quiser cantar
Ah, vem
Cantar comigo essa canção, porém
Eu sinto muito, por favor
Não faz de conta
Quem não tiver vivido então
Um grande amor
Não canta

Amar, amar
Malamar
Mas desamar, jamais
Não há nada de errado
Com vo, aliás
Não de valor maior
A nada mais porque
Amor nenhum vai só fazer você sofrer
Nenhum amor vai só fazer você sofrer

Companheira deitada ao lado em paz na cama
Sequer precisa amor dizer palavra alguma
Eu não quero acordar, sozinho, nunca mais

Amar, amar, malamar
Mas, desamar jamais
Não há nada de errado com você, aliás
Não de valor maior a nada mais porque

Amor nenhum vai só fazer você sofrer
Nenhum amor vai só fazer você sofrer

Amor deitada ao lado meu em paz na cama
Sequer precisa amor dizer palavra alguma
Eu não quero acordar
Nunca mais sozinho amor

Quem não tiver um grande amor então procura
As noites frias são mais frias sem ternura
Essa canção é para quem quiser cantar
Amor maior que’ o meu amor (ah, não!) não
Amor maior que’ o meu amor não

Ah, vem
Me a mão
E vem cantar comigo
Essa canção
É para quem
quiser cantar

Oh não se mate (lágrimas e espermas)

Dia vazio oh solirias horas
A noite é longa, com seu véu insone.
Vo não tem certeza mais de NADA
Às vezes todo mundo chora um POUCO

Pensando a em desistir de TUDO
Mas ah nunca desista de si mesmo.
Vo não sozinho oh não se mate
Se hoje não se jactar; amanhã, jacte-se

De que adianta chegar noutro lugar
Se’o que importa somente é o caminhar.
Semeie a paz, conforto, afeto e amor

Livre-se do ódio e peso do rancor
Afaste-se das dores sempiternas.
O que lhe resta, então, além das lágrimas?!

Tirar da peia em vão milhões de espermas.

Trading

Podia estar treidando agora mesmo
No entanto estou’ escrevendo pés iâmbicos
No compasso penmetro das sílabas
Ou, três e seis, martelo agalopado.

Passar o dia inteiro olhando gráficos
De ações, opções, mercados de futuros
Contratos mini de índices ou dólar
Em vez, pois, de escrever versos heroicos.

Sucesso, lucro, trade day ou swing
Buscar o tão sonhado plan the trade
Seguindo em riste o bull de Wall Street.

Mas, oh, a vida fez de mim igual
Ao que faz com qualquer investidor
Bateu, tomou, passou calor… por fim

Dei sorte só no amor (aos decassílabos)

Saudade

Para Angelina de Jesus Christino (O relirio português marítimo!!!)

Mulher de xaile negro frente ao mar
Os olhos d’água cheios de saudade
Oh mensageira fiel de augusto reino
Pretérito perfeito da lembrança.

Não tenha pressa, mas não perca tempo
Oh, parta! Tome a noite e a tempestade.
As velas – como a vida – são mistérios
De custo, lucro, risco e preço injusto.

Mas, mais que tudo, é navegar preciso
Dobrar o cabo da boa esperança
Quantas glórias, tormentas e derrotas!

Pois, enquanto no mundo houver história
Dos feitos portugueses na memória
Sou o que sou, porque somos todos nós

– Que’em lágrimas de amor se esgote a vida!

Solitude

Voltar as coisas mesmas desde o início
– O meu retrato três por quatro antigo.
Percepção singular do universal
Sobretudo na’ ausência de sentido.

No fluxo temporal da consciência
– A’ existência precede ou não a essência? –
Pretérito e futuro, nada importa
A contingência do presente’ é que’ é.

Na solidão do ser e condenado
– Legado itil da miria humana
A mais completa’ e eterna liberdade.

Se tiver que lutar consigo mesmo
E’ os pensamentos seus à noite, lute
Ah! lute’ a vida’ inteira, lute, sempre

Vida humana preciosa – apenas viva!!!

Coração de Poeta (As Musas)

À Cláudio Manuel, poeta inconfidente

No peito aflito o coração dolente
De angústias cheio o triste coração
O coração do poeta às musas grato
As musas que’o fizeram desgraçado!

Grato à Marília, musa de Bocage
E’a, de Jorge de Lima, Mira-Celi
Grato a Camões da morta Inês de Castro
Grato à Beatriz, Dulcinea del Toboso.

Brancaflor, jaz, em hostes celestiais
Ao som de rumba, jazz, a musa errante
Tão perto, não importa o quão distante!

Também pudera! Pois, se, então, duvidas
Reparas, ó mortal, na chaga viva
Que’o vil amor abriu no peito amante.

Mas ninguém doma um coração de poeta!

Solilóquio de um Louco

não sei quando é noite ou quando é dia
Se teu semblante é sonho ou fantasia
Sem contar o tormento de não ver-te
O avio em te lembrar minh’alma alcança.

Mas ah engano meu, tu me atropelas
Côa tua ingrata, pérfida inconstância
Ao ver, pois, no teu nio o meu destino
Ninguém de amor se fie: é desatino.

Preso à meria do prazer perdido
Disperso em minhas doidas esperanças
No mais, até de mim ando esquecido.

A apagar os incêndios da loucura
Por ti, Amor, ardendo e delirando
No prêmio dos marrios me despeço,

Dizendo um não sei quê, que não se entende.

O Som do Silêncio

Mais turvo, menos turvo, tudo turvo
Sem estrutura, forma, cor ou peso
O resto é o resto, tudo o que não vejo
Que silêncio, meu Deus! Que escuridade!

Mas sinto o sacro fogo arder no peito
Quantas vezes, o Amor, me tem ferido?
Meus ais são de ternura ou desengano?
As Musas me fizeram desgraçado?

Qual vida não merece ser vivida?
Contra os sentidos a razão murmura:
Mortal, sejas mortal; durar não podes.

Minha voz pelo poema desencarna
E o canto reverbera ao som da Lira
Ide, meus versos, tocar o silêncio.

Escuridão, oh! minha velha amiga.

Carrego Comigo

Trago guardado num canto recôndito
Um canto, pois, que a minha voz derrama
Neste pranto, estes ais, com que suspiro
Na chama inexovel da saudade.

Este canto, este som, que vem de dentro
Dos meus gemidos, grimas e amores;
Minh’alma quer lutar côs desenganos
Isto faz da minh’alma puro canto.

Alma minha cruel, que te partiste
Ó Musa que mantém minh’alma presa
Oh, alma da minh’alma, a ingrata, a bela!

Meu canto sufocado em contracantos
Que as vozes de alegria em ais convertem
Ó, doce lira, cesse os versos tristes.

Meu canto não vale um sero conto.