Coração de Poeta (As Musas)

À Cláudio Manuel, poeta inconfidente

No peito aflito o coração dolente
De angústias cheio o triste coração
O coração do poeta às musas grato
As musas que’o fizeram desgraçado!

Grato à Marília, musa de Bocage
E’a, de Jorge de Lima, Mira-Celi
Grato a Camões da morta Inês de Castro
Grato à Beatriz, Dulcinea del Toboso.

Brancaflor, jaz, em hostes celestiais
Ao som de rumba, jazz, a musa errante
Tão perto, não importa o quão distante!

Também pudera! Pois, se, então, duvidas
Reparas, ó mortal, na chaga viva
Que’o vil amor abriu no peito amante.

Mas ninguém doma um coração de poeta!

A Cinza das Horas

E dessas horas ardentes ficou esta cinza fria – Manuel Bandeira

Passar aflito o dia, o mês e o ano
Traidoras horas de enganoso encanto
(Parece a que a dor as faz pesadas!)
Que o tempo que se vai não torna mais.

A vida ao mau destino es sujeita
Que talho o meu pesar em decassílabos:
Da alegria e prazer breves ufanos
Da paixão e do amor mágoa infinita.

Bárbaro tempo! horror da humanidade!
Lembranças que se perdem da memória
Quão raríssimas horas de alegria.

Meu peito infeccionou côa vil torpeza
Da ingrata condição, senil, volátil;
O tempo a me soprar fervor humano.

A lembrar-me (ai de mim!) da mortal hora.