Convite

Custa-me pensar
Que o convite que não fiz
Nem irei fazer
Você pudesse aceitar.

Conversaríamos num bar
Ou num café, quem sabe?
A tarde talvez fosse azul
Não houvesse tantos desejos.

Riríamos… sorrisos amigáveis
Seríamos agradáveis
Um com o outro.

(Em vez da indelicadeza
Desatenção
E da falta de educação)

– Melhor não termos motivos
Para arrependimentos.

Brancaflor-Cantiga de Escárnio

Se todo poeta cantasse o amor
Não existiria lugar pro desamor,
A ironia, o sarcasmo e o meu furor
Nas ‘cantigas de escárnio’, Brancaflor.

Entrego o dorso nu, oh deusa Helena
Nesta hora que me’é contrária à disputa
Brancaflor, minha musa virou diva:
Ó rima pobre, grave, externa e obscena.

Brancaflor, minha musa virou diva:
Vaca profana de tetas leiteiras
Derrama o leite ruim na minha peia.

Brancaflor, minha musa virou diva:
Cachorra popozuda, aventureira
Sobe, desce e rebola em minha peia.

Brancaflor-Canção de Maldizer

Se todo poeta cantasse o amor
Aí, quem me dera’eu fosse o seu cantor
Pra versar como versa um trovador
‘Canção de maldizer‘ pra Brancaflor.

Se você for minha estrela, um cometa
Em fogos e explosões, quisera’eu tê-la
No palco céu em que estrela, o capeta
Brancaflor, põe mesas à luz de velas.

Mas você não quis me ouvir, Brancaflor
Bailou tanto o corpinho bibe
Que atraiu seu novo amor gigo.

Entrego o dorso nu à deusa Helena
Nesta hora que me’é contrária à disputa
Brancaflor, minha musa virou Diva.

Não quero mais dançar seu pas de deux
Brancaflor, não canto mais pra você.

Brancaflor-Cantiga de Amor

Se todo poeta cantasse o amor
Ai, quem me dera’eu fosse’o seu cantor
Pra versar como versa um trovador
Nas ‘cantigas de amor‘, ó Brancaflor.

Se você for minha estrela, um cometa
Em fogos e explosões, quisera’eu tê-la
No palco céu em que estrelar, capeta
Ó Brancaflor, põe mesa à luz de velas.

Entrego o dorso nu, ó Brancaflor
A sua atrocidade – tange a lira
Retesada – oh, musa, chore comigo!

Tristeza de guardar este segredo
Não contar pra ninguém, ó Brancaflor.
Vo não pode ouvir meu canto triste?

Na Balança (In truitina)

(Decassílabos de Carmina Burana)

Ó fortuna, como a lua, és mutável,
Ora tu cresces, ora diminuis;
Detestável vida ora clareia ora
Escurece por brincadeira a mente.

Ó sorte, és monstruosa e vazia, oh!
Tu – roda volúvel – és má; vã é
A felicidade tão dissolúvel
E nebulosa, que a mim contagias.

Dia, noite e tudo me são contrários.
Teu belo rosto me faz versar mil
Prantos, oh!, tens o coração de gelo.

Serei ressuscitado por um beijo?
Na balança os sentimentos oscilam,
Amor lascivo e pudor, um contra o’outro.

Serenata Sintética

(Meu canto não tem nada a ver com a lua – Caetano)

Salve, ó Lua cândida, atrás dos altos
Montes eternamente noctâmbula
Salve! Salve! ó astro fúlgido, que brilhas
Docemente pela noite de minh’alma.

Meiga lua, linda, recatada e do mar
Os teus segredos onde os deixaste ficar?
Nem tão doirada e crua te levantes, ó lua
Mas venhas triste e nua do prateado véu.

Quantos caminhos até chegar a um beijo teu
Que solidão errante até tua companhia
Rua torta, lua morta, tua porta.

Sinto que nós somos noite, apesar da lua
Que tateamos no escuro dentro da noite veloz
E nas cinzas das horas nos dissolvemos.